Ações afirmativas e desenvolvimento regional fecham debates do VI Forint

por Rebeca publicado 29/11/2017 19h40, última modificação 30/11/2017 11h50
Quem falou sobre os assuntos foi o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretor da Fundação Santillana no Brasil, doutor André Luiz de Figueiredo Lázaro

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretor da Fundação Santillana no Brasil, doutor André Luiz de Figueiredo Lázaro, fez a palestra de encerramento do VI Fórum de Integração: Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação Tecnológica (Forint) do Instituto Federal de Roraima (IFRR), que termina nesta quarta-feira, dia 29, no Campus Amajari, norte de Roraima. Ele abordou o tema “A relação das ações afirmativas e o desenvolvimento regional”.

O professor destacou que, nos últimos 15 anos, houve um reconhecimento prático do direito à educação, muito mais ampliado do que era compreendido até recentemente, e que, ao longo do século 20, a educação era entendida como uma prática de formar certos padrões, e esses padrões tendiam a rejeitar qualquer coisa que fosse um pouco diferente. “Então, você tinha uma educação extremamente insensível a potencialidades, a riquezas, a diferenças que havia e que há entre as pessoas, as comunidades e as culturas”, explicou.

Para ele, a luta dos movimentos sociais, do campo, do negro, do indígena, que reivindicaram mais educação, mas uma educação que respeitasse suas condições de vida, condições históricas, perspectivas, cultura, resultou na fusão do direito à educação e à reivindicação pela diferença, o que se tem chamado de ações afirmativas.

Conforme ele, o uso do termo ação afirmativa representa dizer que essas pessoas têm direito a afirmar sua diferença. “Claro que isso não é uma coisa simples. Isso gera tensões, gera complexidade, mas é exatamente esta a função da educação: absorver e transformar essas tensões em fatores positivos para a vida coletiva”, comentou.

O professor disse acreditar que, por meio das ações afirmativas, se consiga trazer para as instituições saberes que não estão presentes, mas que têm direito de chegar até elas. Disse ainda que essa fusão tornará as instituições mais pertinentes, mais relevantes, mais capazes de trabalhar a favor do desenvolvimento.

Sobre o termo desenvolvimento, o professor apresentou argumentos do renomado economista Celso Furtado, que tem vastos trabalhos publicados sobre o tema. Conforme o palestrante, já nos 1960, 1970, acreditava-se que o subdesenvolvimento era uma etapa pela qual se passava para desenvolver-se, e Celso Furtado mostra que não, que é uma forma estrutural de permitir o desenvolver de outras áreas do planeta.

“Ele já percebia a globalização nos anos 60, 70 e dizia que o subdesenvolvimento é uma forma perversa do crescimento. No fundo, o desenvolvimento é uma concepção antropológica do que é o homem, do que é a sociedade humana, porque ele pensa as relações sociais, ambientais, produtivas com a tecnologia. Então a ideia do desenvolvimento é que você fortaleça as relações, modos de vida que possam incorporar inovações, mas sem perder a dimensão social, a dimensão relacional daquele território”, frisou.

Por último, ele falou sobre globalização na visão do pensador brasileiro Milton Santos, que reflete sobre o problema da globalização e do território. “Ele dizia que, quando a modernidade criou a ideia da soberania do Estado-Nação, ela demarcou território, ela redividiu território. E essa validade prevaleceu até recentemente, mas a globalização rompeu os limites do território do Estado, rompeu relações. Ela está reorganizando os territórios, mas não a partir de forças internas do território, mas, sim, de forças externas, que ele (Milton) chama de forças da verticalidade da organização globalizante hoje”, disse.

Levando em conta a riqueza e a diversidade da região, o professor indagou qual é o desenvolvimento de que se precisa. “Não tenho resposta pra isso, mas queria colocar o problema em termos em que as pessoas se sentissem impotentes para responder e que não se sentissem subordinadas a uma lógica que lhes impõe pobreza e miséria. Então, como podemos articular para, com a riqueza cultural que temos, a diversidade técnica, os saberes, promover um desenvolvimento que seja inclusivo das pessoas neste território? Acho que esse é um desafio; não há resposta fácil para ele, não há fórmula”, ressaltou.

Ele finalizou falando da importância desse debate dentro de uma instituição acadêmica, pois ela pode pensar alternativas que combinem relações e técnicas, capacidades e possibilidades. “Como Milton Santos diz, nós precisamos desenvolver novas horizontalidades, que nos propiciem condições de relacionamento, criatividade, condição e basicamente qualidade de vida, porque isso não está na conta do crescimento (...). Então estamos num momento de desafio e penso que esse encontro tem essa virtude de reunir inteligência, força social, poder público e construir soluções, e as soluções são locais, não há fórmula”, finalizou.

 

 

Rebeca Lopes
Fotos: Nenzinho Soares
Comunicação/VI Forint
29/11/17
registrado em: VI Forint

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